Uma das universidades mais bem classificadas do Japão, a de Osaka, está oferecendo isenção de mensalidades, bolsas de pesquisa e auxílio com viagens para estudantes e pesquisadores de instituições americanas que desejam se transferir.

As universidades de Kyoto e de Tóquio também estão considerando programas semelhantes, enquanto Hong Kong instruiu suas instituições acadêmicas a atrair os melhores talentos dos EUA.

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A Xi'an Jiaotong, uma faculdade na China, apelou por estudantes de Harvard, que é alvo da repressão do republicano, prometendo issões "simplificadas" e apoio "abrangente".

O governo Trump decretou cortes massivos de financiamento para pesquisa acadêmica, restringiu vistos para alunos internacionais especialmente os da China – e planeja aumentar os impostos sobre escolas de elite.

O presidente dos EUA alega que as principais universidades americanas são berços de movimentos antiamericanos.

O governo Trump chegou a revogar a permissão de Harvard para matricular estudantes estrangeiros, uma medida posteriormente bloqueada por um juiz federal.

Masaru Ishii, reitor da escola de pós-graduação em medicina da Universidade de Osaka, descreveu o impacto nas instituições americanas como "uma perda para toda a humanidade".

O Japão pretende aumentar o número de alunos internacionais para 400 mil na próxima década. Atualmente, o país possui 337 mil.

Jessica Turner, CEO da Quacquarelli Symonds, uma empresa de análise com sede em Londres que classifica universidades globalmente, afirmou que outras instituições acadêmicas importantes ao redor do mundo estavam tentando atrair estudantes que não tinham certeza se iriam para os Estados Unidos.

Alemanha, França e Irlanda estão ganhando destaque como alternativas particularmente atraentes na Europa, disse ela, enquanto na região Ásia-Pacífico, as áreas que se destacam são: Nova Zelândia, Cingapura, Hong Kong, Coreia do Sul, Japão e China continental.

China x Estados Unidos

Estudantes da China têm sido alvos da repressão do governo Trump. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, prometeu na quarta-feira (28) reprimir "agressivamente" seus vistos.

Mais de 275 mil chineses estão matriculados em centenas de faculdades americanas, o que representa uma importante fonte de receita para as instituições e um canal de talentos de destaque para empresas de tecnologia americanas.

Alunos estrangeiros – 54% deles da Índia e da China – contribuíram com mais de US$ 50 bilhões para a economia americana em 2023, segundo o Departamento de Comércio dos EUA.

A repressão do governo americano ocorre em um período crítico no processo de inscrição de estudantes internacionais, já que muitos jovens se preparam para viajar aos Estados Unidos em agosto para encontrar acomodação e se estabelecer antes do início do semestre letivo.

Dai, uma estudante chinesa de 25 anos da cidade de Chengdu, na China, planejava ir aos EUA para concluir o mestrado, mas agora está considerando seriamente aceitar uma oferta de emprego na Reino Unido.

"As diversas políticas (do governo americano) foram um tapa na minha cara", avaliou, pedindo para ser identificada apenas pelo sobrenome por questões de privacidade.

"Estou pensando na minha saúde mental e é possível que eu realmente mude de escola", adicionou.

Alunos do Reino Unido e da União Europeia também estão mais hesitantes em se candidatar a universidades americanas, destacou Tom Moon, vice-chefe de consultoria da Oxbridge Applications, que auxilia estudantes em candidaturas universitárias.

Houve um aumento nas inscrições a universidades acadêmicas britânicas de potenciais estudantes nos EUA, segundo a Universities UK, uma organização que promove instituições Reino Unido.

A organização alertou, no entanto, que é muito cedo para dizer se isso se traduzirá em mais alunos matriculados.

Reputação americana

Ella Ricketts, uma aluna canadense de 18 anos que está no primeiro ano de Harvard, pontuou que recebe um pacote de auxílio financeiro pago pelos doadores da instituição e está preocupada em não conseguir arcar com outras opções caso seja forçada a se transferir.

"Na época em que eu estava me candidatando a algumas universidades, a única do outro lado do Atlântico que considerei foi Oxford... no entanto, percebi que não teria condições de pagar as mensalidades internacionais e que não havia bolsas de estudo ou auxílio financeiro suficientes disponíveis", relatou.

Se a permissão de Harvard para matricular estudantes estrangeiros for revogada, ela provavelmente se candidatará à Universidade de Toronto, destacou.

A empresa de análise QS afirmou que as visitas gerais ao guia online "Study in America" ​​caíram 17,6% no último ano — com o interesse somente da Índia caindo mais de 50%.

"Impactos mensuráveis ​​nas matrículas geralmente surgem dentro de seis a 18 meses. Os efeitos da reputação, no entanto, costumam perdurar por muito mais tempo, especialmente quando a incerteza em relação ao visto e a mudança nos direitos trabalhistas influenciam as percepções de risco versus retorno", disse Turner, da QS.

Esse risco da reputação e a consequente fuga de cérebros podem ser ainda mais prejudiciais para as instituições americanas do que o impacto econômico imediato da saída de estudantes.

"Se os Estados Unidos rejeitarem esses estudantes brilhantes e talentosos, eles encontrarão outros lugares para trabalhar e estudar", falou Caleb Thompson, um estudante americano de 20 anos em Harvard, que mora com oito acadêmicos internacionais.

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